Uretrite é o nome genérico utilizado para designar a inflamação ou infecção na uretra, o canal que leva a urina da bexiga para fora do corpo. Assim como a cistite, é considerada uma doença infecciosa comum do trato urinário, com mais de 150 mil casos diagnosticados por ano no Brasil. Mas há um diferencial muito importante entre as duas enfermidades: ao contrário da infecção da bexiga, a uretrite é transmitida por via sexual. E, como toda DST, pode ser prevenida com o uso do preservativo.

As uretrites têm diversas causas. Podem ser bacterianas, virais ou auto-imunes. A doença é mais prevalente entre os homens. No caso das mulheres, a atenção deve ser redobrada porque, em geral, as infecções uretrais são assintomáticas. As bactérias causadoras de maior incidência são o Gonococo, a Clamídia e a Ureaplasma. Falaremos sobre isso mais detalhadamente neste post. Continue nos acompanhando.

‘Urinando vidro picado’

Pode soar exagerado, mas a sintomatologia apresentada pelos pacientes em consultório, para qualquer tipo de uretrite, inclui quase sempre a seguinte descrição: “Parece que estou urinando vidro picado”. De fato, a sensação de dor e ardor, na passagem da urina pela uretra, é bastante sugestiva da doença. Há, entretanto, algumas diferenças importantes entre as uretrites gonocócicas e as não-gonocócicas, com destaque para a quem tem a clamídia como agente infeccioso.

Descrita por Hipócrates, o pai da Medicina, 400 anos a.C., a uretrite provocada pela Nesseria gonorrheae é popularmente conhecida como gonorreia, uma das DSTs mais frequentes. Além da uretra, pode também se desenvolver em órgãos como a faringe e o reto. Os sintomas da gonorreia são muito exuberantes, o que facilita o diagnóstico precoce e antecipa o início do tratamento.

O outro agente comumente responsável pelas uretrites é a Chlamydia trachomatis, bactéria de grande poder infectante, que ataca o interior das células. Diferentemente do Gonococo, a infecção pela Clamídia pode ser silenciosa, o que aumenta a possibilidade de transmissão e é uma das explicações para a crescente prevalência da doença, atualmente.

Confira os principais sintomas de cada uma delas, observados entre os homens, porque, como já explicamos acima, mulheres tendem a ser assintomáticas:

1 – Gonococo

• Secreção purulenta, de cor amarelo-esverdeada, em grande quantidade, com mau cheiro
• Dificuldade e ardor ao urinar
• Vontade de urinar frequentemente, com saída de pouca quantidade e sensação de que a bexiga continua cheia

2 – Clamídia

• Pouco corrimento, de cor esbranquiçada, que se acumula após urinar
• Ardor ao urinar
• Coceira na uretra
• Discreta dificuldade em urinar

Diagnóstico e tratamento

As uretrites não-gonocócitas, como as causadas por clamídia e ureaplasma, apresentam sintomas inespecíficos e podem ser assintomáticas. As provocadas por Gonococos são de diagnóstico mais rápido e fácil, em função da sintomatologia exuberante. No entanto, qualquer que seja o tipo de uretrite, apenas o médico pode diagnosticar e tratar. Cuidado: nunca se automedique nem apele para remédios ‘caseiros’ sem consultar o especialista.

Para garantir a cura, o tratamento deve ser feito de forma diferenciada, a depender do agente causador. Amostras de secreções têm que ser enviadas para análise laboratorial. Na maioria dos casos, o médico pode aconselhar iniciar o tratamento antes mesmo dos resultados dos exames, com base nos sintomas apresentados. No caso das uretrites bacterianas, serão prescritos antibióticos diferentes, a depender do agente infeccioso.

Lembre-se: a uretrite infecciosa é uma DST, ou seja, uma doença transmitida pelo contato sexual desprotegido. Portanto, o uso do preservativo é fundamental para a prevenção. Em caso de confirmação diagnóstica, a uretrite precisa ser tratada imediatamente, pois pode ser transmitida para outras pessoas, por via sexual, e causar sérios problemas ao paciente. Saiba quais na próxima parte deste artigo.

O risco da estenose

Com o tratamento adequado, a uretrite pode ser curada sem consequências a longo prazo. Mas, se for negligenciada, há complicações graves. A principal delas, para os homens, é a estenose da uretra, um estreitamento do canal uretral. Tem tratamento, mas não é simples e o problema pode acompanhar o paciente a vida inteira, tamanha a quantidade de recidivas. A estenose traz muita dificuldade para urinar e facilita a ocorrência de cistites (infecções na bexiga).

Nas mulheres, tanto a Clamídia quanto o Gonococo podem ascender e alcançar o útero, as trompas e os ovários – e provocar a doença inflamatória pélvica aguda ( DIP). A complicação mais importante é a dor pélvica crônica e infertilidade feminina.

Algumas curiosidades

• Uretrite também pode ser viral. Estudos mostram que os vírus causadores de HPV e herpes simples podem estar envolvidos nas possíveis causas da doença.
• Tanto na infecção por Gonococo quanto por Clamídia, as mulheres podem não apresentar nenhuma sintomatologia ou reportar queixas semelhantes às das cistites, o que torna obrigatórios a coleta de material para análise da secreção e o exame de urina.
• No homem, a partir do segundo ou terceiro dia do contato com o Gonococo por relação sexual desprotegida, surgem sintomas como ardor ao urinar e presença de secreção purulenta.
• A infecção pode ser passada para o filho durante o parto natural. Se as bactérias da gonorreia ou da clamídia entrarem em contato com os olhos do bebê, podem deixar a criança cega. O colírio de nitrato de prata, aplicado logo após o nascimento, impede a infecção por Gonococo, mas não tem efeito na Clamídia e outras bactérias.